Febre súbita, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor muscular e nas articulações. Embora esses sintomas lembrem a dengue, zika ou chikungunya, eles também são característicos da febre oropouche, uma doença transmitida pela picada de mosquitos do gênero Culicoides, conhecidos como maruim ou mosquito pólvora.

A febre oropouche é causada pelo arbovírus do gênero Orthobunyavirus oropoucheense. Registrada pela primeira vez no Brasil em 1960, a doença foi inicialmente detectada em um bicho-preguiça. Desde então, casos humanos foram relatados, especialmente na região Norte do país. Os mosquitos transmissores se proliferam em ambientes úmidos, como florestas tropicais, margens de rios, solos úmidos, buracos em árvores, matéria orgânica e lixo.

“O período de incubação do vírus é de 3 a 7 dias e os sintomas são muito semelhantes aos da dengue”, explica Flávia Cruzeiro, médica do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs-MG). Além dos sintomas comuns, a febre oropouche pode levar a complicações neurológicas, como meningite ou encefalite, e hemorrágicas, como sangramentos gengivais e nasais.

Uma característica importante da febre oropouche é a possibilidade de recidivas, ocorrendo em até 60% dos casos, com o retorno dos sintomas uma a duas semanas após a primeira manifestação.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico da febre oropouche é realizado por exames laboratoriais, incluindo biologia molecular (RT-qPCR) e isolamento viral, sendo essencial considerar a suspeita em pacientes com sintomas compatíveis e resultados negativos para dengue, chikungunya e zika. Em Minas Gerais, os exames são feitos pelo Laboratório Central de Saúde Pública da Fundação Ezequiel Dias (Funed).

A febre oropouche é uma doença de notificação compulsória, conforme a Portaria de Consolidação GM/MS nº 217, de 1º de março de 2023. Casos suspeitos ou confirmados devem ser comunicados ao Cievs-MG pelas unidades de saúde em até 24 horas.

Não há vacinas ou medicamentos antivirais específicos para a febre oropouche. O tratamento é focado no alívio dos sintomas, e a maioria dos casos se resolve em aproximadamente uma semana. Casos com complicações neurológicas ou hemorrágicas devem ser acompanhados por um médico, podendo necessitar de internação.

Prevenção

A prevenção da febre oropouche envolve o controle vetorial, semelhante ao da dengue, zika e chikungunya:

Evitar áreas com muitos mosquitos.
Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente.
Manter a casa limpa, eliminando possíveis criadouros de mosquitos.
Seguir orientações das autoridades de saúde local em caso de surtos.
Procurar atendimento médico imediato em caso de sintomas suspeitos.
Panorama Atual

Segundo a última atualização epidemiológica da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), publicada em 9 de maio de 2024, foram registrados casos confirmados da febre oropouche em quatro países da América do Sul: Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru. No Brasil, 5.530 amostras detectáveis para o vírus foram identificadas este ano, com 91,4% dos casos concentrados na região amazônica.

Minas Gerais não registrou casos ou óbitos por febre oropouche até 2023. Em maio de 2024, a Funed detectou quatro amostras positivas para o vírus em análises clínicas com resultados negativos para dengue, zika e chikungunya. Os casos foram identificados em Ipatinga, Gonzaga e Congonhas.

“Estamos ampliando a vigilância laboratorial para entender quais arbovírus circulam em nosso estado”, afirma Eduardo Prosdocimi, subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). “Isso é essencial para fornecer informações corretas aos pacientes e à equipe de saúde, garantindo o manejo adequado.”

O Cievs-MG está acompanhando a evolução dos casos e conduz a devida investigação epidemiológica no estado. Prosdocimi reforça a importância de um atendimento inicial rápido e adequado, principalmente com hidratação e repouso, para evitar complicações. Pacientes com sintomas devem procurar a unidade básica de saúde mais próxima para o tratamento adequado.

Este aumento na vigilância e diagnóstico reflete o compromisso de Minas Gerais em enfrentar novos desafios em saúde pública e proteger a população contra arboviroses emergentes como a febre oropouche.