Não bastasse os dois últimos anos vividos em meio a uma pandemia que assolou o planeta e deixou mais de 600 mil mortos no Brasil, o país agora vive uma nova preocupação no enfrentamento à Covid-19: desta vez, aparecem casos de associação do coronavírus ao H3N2, subtipo da Influenza, no que ficou conhecido como Flurona. Até o momento, foram quatro notificados em solo tupiniquim, número que deve aumentar muito em breve.

Dupla infecção pelos vírus que causam a gripe e a Covid-19

Três desses casos de “flurona” foram registrados no Ceará. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado nordestino, os diagnosticados são dois bebês de um ano e um homem de 52 anos. Os três já receberam alta.

Um adolescente de 16 anos foi o primeiro infectado no Rio de Janeiro. A informação foi divulgada pela TV Globo. Ele começou a ter sintomas na última quarta-feira 29 de dezembro, quando foi submetido a testes das duas síndromes gripais, sendo que ambos deram positivo.

À TV Globo, a mãe do adolescente disse que ele já havia sido vacinado tanto contra Covid-19 quanto contra a gripe. “Ele está bem, mas pode acontecer. Por isso, cuidem-se porque os dois vírus podem existir no nosso organismo ao mesmo tempo”, afirmou.

Israel identificou o seu primeiro caso de infeção dupla pelo vírus da Covid-19 e da gripe, numa mulher grávida não vacinada, confirmou este domingo o Ministério da Saúde israelita à agência de notícias EFE.

Conhecida informalmente como “flurona”, o termo designa o contágio simultâneo com Covid-19 e a gripe (em inglês, “flu”) – causada pelo vírus influenza.

A possibilidade de infeção com os dois vírus em simultâneo é algo que está a ser estudado por peritos, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), visto que outros casos, embora raros, já foram identificados a nível global.

A época do inverno, em que a circulação do vírus da gripe se intensifica, representa um momento de grande preocupação, especialmente à luz da nova variante Ômicron e da sua acrescida transmissibilidade.

Diferenças e semelhanças

De acordo com o CDC, “é possível ter gripe e outras doenças respiratórias como a Covid-19 ao mesmo tempo”.

Apesar de “alguns dos sintomas da gripe e da Covid-19 serem semelhantes, o que torna difícil distinguir entre eles com base apenas nos sintomas”, os testes de diagnóstico são o meio mais fiável para saber se está infetado com Covid-19 ou gripe. Existem ainda testes específicos que podem verificar a existência dos vírus sazonais da gripe A e B e do SARS-CoV-2 em simultâneo.

A gripe e a Covid-19 são ambas doenças respiratórias, mas são causadas por vírus diferentes. Enquanto a Covid-19 é causada pelo vírus SARS-CoV-2, a gripe comum é causada por vírus influenza – vírus da gripe conhecidos como A e B, responsáveis por epidemias sazonais de gripe.

Numa altura em que ambos os vírus circulam entre a população, é importante estar atento aos sintomas, que podem ser semelhantes nas duas infeções. Mas também existem algumas diferenças.

De acordo com o CDC, sintomas comuns entre as duas doenças incluem febre, tosse, dificuldade em respirar, fadiga, dor de garganta, nariz entupido, dores musculares ou dores de cabeça. A perda do olfato e/ou paladar também pode ocorrer em ambos os casos, embora seja mais comum na infeção por Covid-19.

No entanto, no caso da gripe, estes sintomas começam geralmente a manifestar-se mais cedo do que na Covid-19. No caso da gripe, a pessoa infetada pode começar a apresentar sintomas entre 1 a 4 dias após a infeção, enquanto que com a Covid-19, estes sintomas podem aparecer entre 5 a 14 dias depois da infeção.

Uma outra diferença é que com a Covid-19, as pessoas infetadas poderão ser contagiosas durante mais tempo do que se tivessem gripe – até cerca de 10 dias após a infeção (embora no caso da Ômicron esse período de transmissibilidade esteja a revisto em baixa – Portugal baixou para 7 dias o período de isolamento e os EUA para cinco) , enquanto a maioria das pessoas com gripe deixa de ser contagiosa após os primeiros 7 dias de infeção.

Além disso, apesar de ambos os vírus se transmitirem via aérea, através das partículas libertadas através da fala e respiração, a Covid-19 é, geralmente, mais contagiosa: este vírus pode propagar-se mais rápida e facilmente e resultar em propagação contínua à medida que o tempo avança.

O que pode significar uma infeção com os dois vírus

“É certamente possível apanhar a gripe e Covid-19 ao mesmo tempo, o que pode ser catastrófico para o sistema imunitário”, explica Adrian Burrowes, médico e professor de medicina familiar na Universidade da Florida Central, à CNN.

Para começar, a infeção com apenas um dos vírus pode tornar mais suscetível o contágio com o outro: estando o sistema imunitário mais enfraquecido, não terá tanta capacidade de enfrentar uma nova infeção.

Ao mesmo órgão de comunicação, Jorge Rodriguez, médico de medicina interna explica que os sintomas das duas condições em conjunto também podem ser mais intensos.

“A febre pode ser pior. A falta de ar pode ser pior. A perda do olfato e do paladar pode ser pior. E para além de tudo isso, pode durar mais tempo”, afirma.

E uma vez que ambas as doenças podem, em casos mais graves, originar pneumonias, complicações respiratórias e cardíacas e ainda inflamação cardíaca, a combinação das duas em simultâneo pode vir a agravar estas condições.

Segundo Michael Matthay, professor de medicina e especialista em cuidados intensivos na Universidade da Califórnia, São Francisco, um contágio duplo “aumentaria o risco de efeitos a longo prazo de qualquer uma destas condições”.

“Os dois juntos poderiam definitivamente ser mais prejudiciais para os pulmões e causar mais insuficiência respiratória”, continua, em declarações à CNN.

Uma época de gripe potencialmente mais severa

O CDC também já alertou para o facto de que a época da gripe deste inverno possa ser mais severa, uma vez que em 2020 foi registado um número abaixo do normal de casos de gripe.

A coexistência dos dois vírus é algo que preocupa os peritos, uma vez que no ano passado, as precauções de segurança reforçadas contra a Covid-19 ajudaram a impedir também a propagação da gripe, de acordo com Mark Rosenberg, presidente do Colégio Americano de Médicos de Emergência.

Mas este inverno, o alívio das medidas de restrição em conjunto com a “fadiga pandémica” que se faz sentir podem abrir caminho para uma convivência perigosa entre as duas condições.

“No ano passado, mais pessoas que ficaram em casa e usaram máscaras de proteção quando saíram mantiveram os números da gripe historicamente baixos”, disse Rosenberg num comunicado escrito. “Mas este ano, a situação pode ser perigosamente diferente”.

Para os especialistas, a melhor arma na luta contra as duas doenças é a vacinação. O CDC recomenda a toma da vacina da gripe anualmente, a todas as pessoas com mais de seis meses. Esta vacina pode ainda ser tomada em conjunto com a vacina da Covid-19, incluindo a dose de reforço.

Fonte: Visão Saúde/O Tempo