Crônica de Carlos Monteiro
Carlos Monteiro — publicitário, jornalista e fotógrafo carioca.

Já estava com saudades de tantas nuances, desse trem das cores abusado em códigos Pantone® do alvorecer. Hoje, o céu explodiu em ancenúbio ton sur ton, prenunciando um Sol mais impoluto que nunca. Surgiu no horizonte, literalmente na linha do firmamento, preferiu o horizonte ao topo dos arranha-céus ou das montanhas. Vaidoso, fez seu espetáculo malabar sob e sobre as nuvens que, carinhosamente, o refletiram, acolheram e embalaram.

Já clareia mais cedo. Às 4h25 já temos os primeiros raios rútilos no firmamento. São os primeiros brilhos, os primeiros acordes da sinfonia chamada “Alvorada Carioca” que dará o tom ao dia que se inicia em pompa e verso. Composta em tons, não musicais, mas de cores e acontecimentos. Podemos dizer que cada uma das nuances, das cores, representam uma nota e que, este conjunto de notas, uma ode ao Rio.

 O Maestro, que deu o tom a Cidade Maravilhosa e que tem no nome o gentílico de sua pátria, Tom Jobim juntamente com Billy Blanco, que apesar do nome estrangeirado, é nascido na terra da Nazinha e criado nas bandas de cá, talvez tenham se inspirado nessas cores para compor “Sinfonia do Rio de Janeiro-Hino ao Sol”.

 Tons azulados-escuros, em lilás, avermelhados, alaranjados, doirados, e, por fim, amarelados-gema-de-ovo invadem o famoso “lindo céu azul-de-anil” do “…Rio dos sambas e batucadas/Dos malandros e mulatas/De requebros febris…” nos versos do poeta Silas de Oliveira.

O Astro-Rei marcará presença!

 A construção de concreto armado, encimada pela “Parabólica Camará” e enciumada com tamanha beleza, apenas olhou longamente. Admirou e, parecendo estar ao som do ‘Rei’: “…Assistia tudo/Não dizia nada…”. Contrastava com tantos tons e semitons de amarelo-lilases.

O Astro-Rei, por sua vez, com toda certeza, estará ao som de Chico Buarque, talvez até, ironizando àquela que o acolheu por quase um mês.

Através da objetiva, percebi, entre raios, luminosidade e equilíbrio sobre a cumulus nimbus que, “…Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago/Dançou e gargalhou como se ouvisse música/E tropeçou no céu como se fosse um bêbado/E flutuou no ar como se fosse um pássaro…”, um pássaro como uma das fragatas que, ainda, ensaiam seu balé matinal, com todo açúcar e muito afeto, muitas vezes descompassadas de amor.

Os pássaros de aço que, agora, insistem em dividir o firmamento com o Febo, só se apresentam em aterragens e decolagens após a primeira hora do Ângelus e já são muitos. Logo com o Astro do Dia que já divide os céus com a Lua que anda toda faceira a iluminar, vespertinamente, a Cidade

(continua…)