Cris do Morro – Comunicador
Cada vez mais vemos moradores de comunidades em postos de saúde ou UPAs. Para muitos, pode não parecer surpreendente, mas isso faz parte de um problema maior: vivemos numa sociedade doente, com impactos em todas as faixas etárias e classes sociais. Nas favelas, onde a vida em comunidade era um antídoto contra o isolamento e a depressão, as novas dinâmicas sociais trouxeram uma explosão de doenças físicas e mentais, que agora afetam profundamente jovens, adultos e idosos.
Nos últimos 10 anos, a despropriação de casas e o aumento da violência vêm criando vulnerabilidades que afetam diretamente a saúde mental e física de homens, mulheres e jovens. Com a falta de espaços de lazer, cultura e esporte, essas questões se tornam ainda mais graves. Segundo dados do IBGE, aproximadamente 70% das favelas e comunidades periféricas carecem de infraestrutura adequada para atividades de lazer e cultura, contribuindo diretamente para o aumento do sedentarismo, depressão e problemas de saúde mental em todas as idades.
Os jovens, particularmente, sofrem com a ausência de alternativas de lazer e esportivas, o que os torna mais suscetíveis ao envolvimento com drogas e álcool. Diante da falta de espaços seguros para a prática de desportos ou atividades culturais, muitos acabam se isolando ou recorrendo ao uso de substâncias para lidar com o estresse e a ansiedade. Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que o consumo de drogas ilícitas entre jovens nas favelas aumentou 40% nos últimos cinco anos, agravando os problemas de saúde mental e levando ao aumento da criminalidade e à deterioração da qualidade de vida nas comunidades.
Para os homens, a falta de atividades físicas, antes espontaneamente incorporadas no dia a dia, como o futebol de rua, agora contribui para o aumento de doenças crônicas. O sedentarismo está associado a uma alta taxa de hipertensão e diabete, doenças que, segundo o Ministério da Saúde, crescem 25% mais rápido entre homens de baixa renda. O afastamento do esporte e a rotina mais sedentária também impactam diretamente a saúde mental e emocional dessa população, resultando em ansiedade e frustração.
As mulheres enfrentam ainda o impacto da violência doméstica e comunitária, muitas vezes agravado pela falta de espaços seguros para socializar e praticar atividades culturais. Sem opções de lazer acessíveis, essas mulheres frequentemente ficam limitadas ao ambiente doméstico, o que intensifica transtornos como ansiedade e depressão. Conforme o Instituto Maria da Penha, os casos de violência doméstica aumentaram 30% nas áreas carenciadas nos últimos dez anos, e o isolamento é um fator agravante para essas condições.
Os idosos, que antes participavam ativamente de eventos locais e convívios de bairro, agora vivem em isolamento devido à falta de espaços comunitários e atividades recreativas. A solidão, agravada pela ausência de alternativas de socialização e lazer, resulta num aumento dos casos de depressão e até de demência. Segundo a OMS, o Brasil está entre os países com maior crescimento de casos de demência entre idosos de baixa renda, uma tendência que preocupa pela falta de infraestrutura para lidar com as necessidades de saúde mental dessa população.
Estes problemas evidenciam a necessidade de investimentos em espaços de lazer, cultura e esporte nas comunidades. O resgate dessas práticas pode ajudar a reduzir os índices de doenças físicas e mentais e a fortalecer a união e a saúde comunitária. Será que estamos prontos para abraçar essa mudança?
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