Lucimar Souza – Jornalista
Num mundo onde telas disputam atenção desde o berço, educadores e famílias buscam caminhos para formar leitores desde os primeiros anos — com afeto, presença e livros certos na hora certa. Com a popularização de celulares, vídeos curtos e brinquedos eletrônicos, formar o hábito da leitura na infância parece cada vez mais difícil. Mas especialistas em desenvolvimento infantil garantem: é justamente nos primeiros anos de vida que o gosto pelos livros pode e deve ser cultivado. Nesta reportagem, no mês do Dia Nacional do Livro Infantil (18 de abril), mostramos como bebês e crianças pequenas podem se tornar leitores mesmo em meio a tantas distrações digitais.
Com o avanço das tecnologias digitais, as distrações para as crianças têm se multiplicado. Desde muito cedo, os pequenos estão sendo expostos a telas que competem com a atenção e o afeto que antes eram direcionados aos livros. Porém, é justamente nesta fase de desenvolvimento, chamada de primeira infância, que o gosto pela leitura pode ser semeado, gerando impactos significativos no futuro educacional e cognitivo da criança.
A leitura na primeira infância é um direito garantido pela Constituição Brasileira e pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que reforçam a importância do estímulo à leitura como ferramenta essencial no desenvolvimento da linguagem e na promoção da equidade social. Isso está demonstrado em vários estudos que confirmam que crianças que têm contato precoce com livros e histórias têm mais chances de se tornarem leitores proficientes ao longo da vida.
Leitura e afeto: a chave para o desenvolvimento
A relação afetiva mediada pela leitura entre adultos e crianças tem um impacto direto no desenvolvimento da linguagem e na construção do vínculo emocional. Como destacado no estudo de Brasil, A. L. (2022), “a leitura compartilhada contribui para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, promovendo não apenas o aprendizado das palavras, mas também a construção de um imaginário coletivo” (Brasil, 2022). Essas memórias podem durar a vida toda, pois é comum conversarmos com adultos que se recordam com muito afeto das suas primeiras páginas lidas e dos livrinhos utilizados na fase da alfabetização. Em consonância com isso, o Projeto Leitura no Colo é um exemplo de como o ato de ler para crianças pequenas fortalece os laços familiares e cria um ambiente estimulante para o aprendizado. Segundo Gonçalves (2023), “as crianças começam a reconhecer os livros não apenas como objetos, mas como símbolos de afeto, favorecendo seu interesse pela leitura” (Gonçalves, 2023).
Como a leitura na primeira infância é um fator de equidade.
Em um cenário onde muitas crianças ainda não têm acesso ao material didático necessário para o desenvolvimento educacional, a leitura assume uma função essencial: garantir o acesso ao conhecimento e proporcionar um espaço de criatividade e imaginação. Em países como o Brasil, onde a desigualdade social é um desafio constante, a leitura na infância pode se tornar uma poderosa ferramenta de equidade. O estudo de Silva (2021) aponta que “a leitura precoce é uma estratégia fundamental para romper com os ciclos de pobreza educacional” (Silva, 2021). Desde cedo, a criança pode sonhar com a ascensão social que ela nem tem ideia do que se trata, mas pode se ver distante da pobreza nas páginas da imaginação.
Os desafios da distração digital.
Porém, ao mesmo tempo, a distração digital representa um dos maiores desafios contemporâneos. As telas dos dispositivos móveis, vídeos curtos e brinquedos eletrônicos atraem cada vez mais a atenção dos pequenos. Segundo pesquisa realizada pela Fundação Itaú Social (2020), “o tempo dedicado ao consumo de conteúdos digitais impacta diretamente no tempo que poderia ser utilizado para o desenvolvimento da leitura e da linguagem” (Fundação Itaú Social, 2020). Em alguns casos, os pais não sabem o que fazer para que a criança fique quieta enquanto cumprem seus a fazeres e assim parte dos próprios responsáveis o uso excessivo e a preferência pelas telas, que já o livro requer que alguém leia para a criança.
No entanto, especialistas afirmam que a tecnologia não é inimiga da leitura, mas sim uma aliada, desde que usada de maneira equilibrada. A chave está no uso consciente, onde os livros continuam sendo protagonistas da rotina infantil, complementados por experiências digitais que agreguem valor educacional.
Várias escolas desenvolvem projetos que envolvem a leitura pelos responsáveis das crianças como tarefa para fazer em casa e na escola os alunos relatam como foi a experiência. Denominada de Sacola Literária ou Mala Viajante, esta é uma iniciativa que costuma cativar e influenciar os novos leitores.
Na opinião de Ana Flávia, mãe de Pedro e João Nunes, alunos da Escola Municipal Professora Thais, o projeto de leitores é fantástico. Criar hábito de leitura em um mundo tão digital é algo que prezamos muito em nossa casa. E quando vimos o projeto escolar envolvendo isso, adoramos. Que mais crianças tenham essa experiência de leitura com seus pais. Foi um momento prazeroso e muito especial na nossa rotina e vimos o quão interessados por livros nossos filhos são. Projeto sensacional!
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