“Somos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro.”
Esta frase parafraseada por Freud nos faz refletir sobre por que precisamos suportar tanto? Por que lutamos contra nossas próprias resistências e vestimos uma armadura diante da vida e de nossas lutas?

Freud nos traz a dimensão de que somos constituídos por algo mutável. Ser de carne e de ferro é um exercício árduo, uma tentativa de “negar” a realidade humana da castração, da finitude, do desamparo e de tudo que nos leva a nos revestir de algo capaz de nos proteger. Ser de carne nos coloca no lugar do sentir, do experimentar momentos movidos pela pulsão de vida.

No entanto, quando somos lançados às dores da vida, tomamos consciência da fragilidade humana. Mas muitos esquecem que o ferro também possui fragilidade. Ele tem uma baixa ductilidade, ou seja, um grau de deformação, e reage à temperatura, sendo moldado. O ferro pode ser moldado por muitas pancadas, muitas marteladas, e criar a forma que o meio externo lhe impõe.

O que quero dizer com isso? Quero dizer que, mesmo nos fazendo de ferro, não somos tão fortes quanto pensamos. Levamos pancadas da vida que nos moldam, nos ferem, mas nos dão formas. Pelo calor de alguém, podemos ser moldados da mesma forma que a frieza pode nos paralisar. Você não precisa ser moldado apenas por marteladas, que também deixam marcas e buracos. O afeto também dá forma, faz corpo, dá contorno.

Como você tem vivido e validado seus sentimentos? Diante da vida, você se fez de ferro ou de carne?

Quando nos fazemos de ferro, esquecemos o quanto nos colocamos nesse lugar de suportar as pancadas promovidas pelo viver. Quando nos fazemos de ferro, ocultamos o ser que existe por trás da armadura. Você tem enxergado suas dores?

Não que ser forte seja algo ruim, mas ser forte o tempo todo nos rouba a possibilidade de sentir, de compreender nossas emoções e de ler o mundo de uma maneira mais sensível, mais humana. Atrás de um ser que se faz de ferro, existe uma carne que dói, que sofre e que, muitas vezes, não sabe lidar com o que sente, porque nunca se colocou a aprender sobre seus próprios sentimentos.

Às vezes, é justamente a carne que amortece as dores, porque é ela que sente, ampara, chora, deseja, sacia, cria. Já o ferro é uma armadura que nos tira a capacidade de aprender a lidar com a nossa própria carne. Afinal, carne é carne. Às vezes, o que nos falta é ser de carne!

Com carinho,

Sabrina Santos