Valéria Flores – jornalista e editora.

Esmeraldas é uma cidade que, de acordo com as eleições e censo de 2018, registra mais de 60 mil de habitantes e cerca de 52 mil eleitores e por isso merece a atenção dos candidatos ao pleito pelo governo de Minas Gerais 2022. A cidade é vizinha dos municípios de Florestal, São José da Varginha e Ribeirão das Neves. O atual prefeito da cidade é o comerciante, bacharel em Sistemas da Informação, Marcelo Nonato Figueiredo (SOLIDARIEDADE).

Como seus municípios vizinhos e outras cidades da RMBH, entre os grandes problemas da cidade estão o transporte público, muito precário. E não apenas no sentido de Esmeraldas até BH, mais internamente também, pois muitos bairros não possuem acesso direto ao centro da cidade.

A cidade ainda não possui rede de esgoto nos bairros e os tratamentos são feitos por meio de fossa sépticas. Essa situação de precariedade no acesso ao transporte e à rede de esgoto, impacta diretamente em outra área básica, a da saúde.

A população doente não consegue se deslocar com facilidade ao centro, onde está localizado o Hospital 25 de maio, causando o deslocamento para outras cidades, principalmente BH, para receber atendimento. A área da educação também enfrenta gargalos sérios e a população da cidade sofre com a falta de investimentos no setor e, inclusive, na criação de escolas técnicas profissionalizantes para os jovens.

MG 060 é importante para a cidade

Outra luta recorrente dos moradores é pelas obras de asfalto e conclusão da MG 060, que se estendem desde 2019. Sobre esse problema específico, o pré-candidato Carlos Viana (PL), disse que “precisamos iniciar de imediato um grande programa de asfaltamento, e aí podemos incluir a MG 060, que é tão importante para os moradores de Esmeraldas. Podemos fazer isso com os recursos que virão do acordo que está sendo feito com as empresas responsáveis pelo acidente da mineração em Mariana. Vai ter um acordo, que garantirá muito dinheiro para o estado, como foi feito em Brumadinho. Usando parte desse recurso nas estradas, vamos ajudar no escoamento da produção, dar mais segurança, vamos complementar o que eu chamo de Programa de Turismo como fonte de renda. Nós vamos fazer um trabalho emergencial em trechos que serão colocados como prioridade”, garantiu Carlos Viana.

De acordo com o pré-candidato, o governo Federal não conseguiu atender Minas Gerais da forma como é necessário e com o orçamento curto, o governo também concentrou esforços no Norte do país, para o atendimento às ferrovias e a exportação do Centro-Oeste, em direção aos portos do Norte, que é uma opção correta para o Brasil. “Mas nós ficamos em dívida com Minas Gerais” reconhece Viana.

Outras propostas de Carlos Viana

Único dos três candidatos apontados nas pesquisas com maior índice de aceitação pela população do estado, como dissemos anteriormente, Carlos Viana (PL), foi o único a responder nossa entrevista. Para o candidato, o Brasil é o quarto país do mundo na relação entre o PIB e o investimento em educação, mas que se comparado com os 150 países avaliados, é o número 130 em resultado. “Ou seja, há um descompasso. Nós investimos muito, mas não conseguimos o resultado que queremos. São várias as causas disso: professor sem incentivos e com treinamento muito aquém do necessário; escolas que não têm laboratórios e, muitas vezes, sem acesso à internet, o que não permite aos alunos ter uma dimensão maior da tecnologia; e, por último, um currículo que não dá aos adolescentes a possibilidade de serem profissionais, apesar de prever agora o ensino técnico”, avalia ele. De acordo com Carlos Viana, todos precisam chamar professores e especialistas para redesenhar a educação pública com o objetivo de formar mão de obra por região. “E se, em determinada área de Minas Gerais, o agronegócio é uma necessidade, vamos fazer formação de profissionais nessa área para atender à região. Um exemplo: no Norte de Minas, nós temos uma demanda muito grande por energia solar. Vamos começar a formar técnicos em energia solar. No Sul de Minas Gerais, nós temos a pesquisa aeroespacial, uma fábrica de helicópteros. Vamos começar a trabalhar em conjunto com eles para saber quais são os profissionais que nós podemos formar. É um modelo muito bem-sucedido na Europa. Àqueles que quiserem ser professores, vamos desde o início incentivá-los a fazer o mestrado”, esclarece.

Saúde é desorganizada e complexa

“O que eu tenho observado é uma desorganização completa da Saúde em Minas Gerais. Nós já temos um sistema complexo, que é tripartite – Federal, estadual e municipal. Temos uma redundância. Não há um controle do atendimento. Uma pessoa tem um atendimento em uma cidade, pode ter em outra, pode ter em outro estado e isso tudo é Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos pontos principais é que a gente precisa conseguir cadastrar esses usuários por CPF e começar a ter um prontuário único para os pacientes”, afirma. Para ele a questão da saúde não passa apenas por falta de dinheiro, “ela precisa de uma reorganização do sistema e isso nós temos que fazer com muita urgência, para que a gente possa voltar a ter um atendimento mais rápido das pessoas”, disse.

Emprego e renda e estradas

Para Carlos Viana é preciso começar a pensar a geração de riqueza por região. “Veja como exemplo a apicultura familiar. Minha expectativa é tornar Minas Gerais o maior produtor nessa área, por que isso gera R$ 2.100 por família e eles não abandonam o campo.  Minas é um estado minerador, mas a mineração vai acabar, seja porque as minas vão se exaurir, seja porque vai ficar mais difícil minerar em área urbana. A polêmica da Serra do Curral, em Belo Horizonte, é um exemplo de que a população não quer mais dinheiro a qualquer custo. O que virá para Minas depois da mineração? Porque hoje ela responde por quase 70% da arrecadação” questiona o candidato.

Turismo e cultura

Ele defende o turismo, a formação, o incentivo à construção de hotéis, rotas e roteiros, grandes programas gastronômicos de cultura. Ainda de acordo com Viana, Minas Gerais tem 62% de todo o patrimônio histórico brasileiro catalogado, riqueza que ainda não é explorada, o turismo gera 390 mil empregos diretos no estado e a mineração, 65 mil.

“Nós podemos com o tempo, trabalhando bem as estradas e a imagem do Estado, fazer com que Minas Gerais saia de um estado essencialmente minerador para um estado rico, com preservação de meio ambiente e do patrimônio histórico. Veja como exemplo as concessões: a BR-040 não avançou como gostaríamos nem no sentido Rio-BH nem no sentido BH – Brasília. A BR-262, que saí do Triângulo Mineiro, também não avançou. Não conseguimos privatizar a BR-381, que está no estado precário” conclui Viana.

Pesquisas apontam Kalil, Zema e Viana à frente, mas eleição ainda não está garantida

Ao contrário do cenário polarizado das eleições 2022 para presidente do país, mais especificamente cravado pela imprensa, entre Bolsonaro (PL) X Lula (PT), o quadro desenhado, até agora, paras as eleições ao cargo de Governador, em outubro, por Minas Gerais, se configura apertado, mas ainda sem uma definição sobre qual será o candidato eleito ou o grande vencedor da corrida nesse pleito. Uma pesquisa divulgada no último mês de maio, mostra que o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), lidera a corrida pelo governo de Minas Gerais, quando apoiado pelo ex-presidente Lula (PT). Neste cenário, Kalil tem 34,6%, contra 33,1% do atual governador Romeu Zema (Novo), que seria apoiado pelo candidato à presidência da República do seu partido, Luiz Felipe D’Avila. Já o senador Carlos Viana (PL), quando citado apoiando o presidente Jair Bolsonaro (PL), soma 11,7% das intenções de voto. No levantamento, o instituto de Pesquisas entrevistou cerca de 2.000 eleitores, em 78 cidades mineiras. A margem de erro é de 2,4% e o nível de confiança é de 95%.

Polêmicas e indefinição  

Apesar de se manter ainda na frente na corrida pelo governo de Minas, o apoio ao pedido de exploração de minério na Serra do Curral em Nova Lima (MG) complica esse fato ao expor mais uma faceta da contraditória relação entre o setor minerador e o governo de Zema (Novo). Além de o prefeito da cidade ser ex-funcionário da Vale e de o projeto pertencer a uma empresa cujo sócio é filiado ao Novo, há indícios de que há quatro anos a campanha do governador recebeu doações de sócios de mineradoras. Nas doações de campanha, disponíveis para consulta pública, informam que, ao menos R$ 650 mil foram transferidos pelos sócios de duas mineradoras, para a candidatura de Zema. O valor dessa transferência equivale a 11% do financiamento da campanha. Nenhuma das transferências foi feita diretamente para o então candidato: o dinheiro foi enviado para o fundo estadual do Novo e o partido repassou os valores para a campanha eleitoral. Não é ilegal que pessoas físicas façam doações às campanhas. O financiamento de empresas é proibido desde as eleições de 2018. Isso não significa, na visão de especialistas, que não possa haver algum conflito de interesse nos repasses feitos por empresários.

Primos e vice

E mais recentemente, o governo de Zema se envolveu em outra polêmica: a imprensa nacional divulgou que a nova presidente do Instituto Estadual do Pa- trimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), Marília Machado é prima (em primeiro grau) do executivo da mineradora Tamisa, o advogado – há mais de 10 anos no cargo – Guilherme Machado, que pretende explorar a Serra do Curral. A Tamisa afirma que eles têm relação distante, já o governo de Minas Gerais alega que a Marília Machado foi nomeada por seu currículo. No caso de Alexandre Kalil, após selar aliança com o PT, em Minas Gerais, as expectativas giram em torno da definição do nome de quem será o seu vice na chapa para o governo do estado. Nome esse, que será indicado pelo próprio PT, que exigiu o cargo ao negociar o apoio nas candidaturas, entre Kalil e o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Cotado para o posto como candidato, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), coordenador da campanha de Lula em MG, respondeu que prefere atuar nos bastidores a ser vice de Kalil.

Problemas e expectativas  

Por sua vez, outra pesquisa, também realizada em Minas, ouviu os mineiros e destaca os grandes problemas a serem enfrentados no estado e na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Na opinião dos mineiros, a questão mais grave que Minas Gerais enfrenta hoje é a economia. O levantamento apontou ainda que a maioria enfrenta dificuldades para pagar suas próprias contas e que a pers- pectiva para os próximos meses é de uma piora nos índices inflacionários, principalmente nos preços dos alimentos, da gasolina, do gás de cozinha, além do índice de desemprego crescente. E além da economia, a pesquisa retrata, pelo nível de gravidade avaliado pelos entrevistados, a seguinte pirâmide: economia (31%); saúde/ pandemia (21%); infraestrutura (8%); questões sociais (5%); corrupção/ má administração (5%); violência (4%); impostos (3%); enchentes (1%); outros (13%) e; Não souberam res- ponder (9%).

As expectativas em torno das campanhas são muito grandes e paira no ar uma nítida sensação de que, qualquer movimento das peças no tabuleiro ou novidade configurada possa, por menor que seja, ainda mudar completamente os rumos, as estratégias políticas e o resultado das próximas eleições para governador por Minas Gerais. Por isso, o JDE quis ouvir cada candidato e enviou para seus assessores, perguntas sobre seus planos e programas de governo para a sociedade mineira. No entanto, a equipe do JDE esclarece que até o fechamento dessa edição, as assessorias dos candidatos Kalil (PSD) e Zema (NOVO) não retornaram nossos contatos com as informações solicitadas e que apenas a assessoria do candidato, Carlos Viana se pronunciou sobre a nossa reportagem.

O quadro desenhado, até agora, paras as eleições ao cargo de Governador, em outubro, por Minas Gerais, se configura apertado, mas ainda sem uma definição sobre qual será o candidato eleito ou o grande vencedor da corrida nesse pleito.