Sabrina Santos – Psicanalista

Vamos falar da tristeza? Esta que nos visita, às vezes senta à mesa e nos tira o apetite.
Desejamos que ela parta, sem deixar marcas e simplesmente da mesma forma que entrou, saia…
Muitas vezes não entendemos qual é a função deste sentimento avassalador, que sacode a calma e desampara a alma.

Esta emoção que é primária ao nosso cérebro, e que faz consigo também uma importante função. A tristeza nos leva à reflexão, diferente do que imaginamos quando acreditamos que ela não nos coloca prostrados frente a qualquer situação, o prostrar é patológico, o refletir é a ação. Acontece que vivemos na era do hedonismo, onde só existe lugar para a alegria, para a foto bonita, para uma vida sem dor, para o imaginário cujo o alvo é um vazio feliz, um nada preenchido pelo o que o mundo diz.

Entendemos que isto é o normal, é descalçar o sapato que mais aperta, afastar o dedo da chama que te chama, mas te alerta, é livrar a alma da dor, mas esquecemos que normalidade é aquilo que se repete para a maioria, e se tem uma coisa que a psicanálise nos ensina, é que somos plural sobretudo singular, e nós só seremos a maioria se permitirmos ser medidos pela a mesma medida.

No entanto, encare suas tristezas como aquilo que te movimenta frente à vida.
Ela nos faz recolher em nós mesmos, realinhar a rota, mexer em retas que estão tortas, ou aceitar que há curvas que não precisamos alterar. Somente ela nos leva a refletir o que fica, o que sai, ou se faz extinguir…

Ela é a oportunidade de felicidade, porque sem a tristeza não refletimos o que temos de bom, ou para onde desejamos ir…

É ela quem nos dá parâmetros para a alegria. A tristeza não é o convite para a desistência, muito pelo contrário, ela é pausa, é rota, ela é presença. “Ninguém se ilumina imaginando figuras de luz, mas se conscientizando da escuridão”.

Uma pérola só nasce quando um grão de areia entra na ostra, isto é o suficiente para ela se calcificar, e de um grão de areia, uma jóia se fará brilhar… Olha que lição. Uma ostra feliz não produz pérolas… às vezes é preciso trabalhar o grão de areia que entra e mexe com tudo que está pronto. São estes grãos que produzirão o valioso poder que está contido na superação.

Vivemos em um mundo onde poder viver nossas tristezas, e aprender com elas enquanto bagagem, nos pede coragem! E quando a tristeza lhe fizer visita, sente-se com ela, se permita viver o processo que é construir uma pérola. Acolher o triste com a amor, e tirar deste sentimento algo de muito valor.

Com carinho
Sabrina Santos