Juliana Guimarães, oftalmologista e diretora do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães

As campanhas de conscientização disseminam conhecimento sobre determinadas doenças, alertando a população sobre riscos para a saúde, sobretudo, em relação àquelas pouco conhecidas, como o glaucoma. O reforço para combater essa patologia é maior durante este mês. Alguns estudos, como o do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), revelam que a prevalência do problema em idosos acima de 70 anos seja de 6%, com risco maior para negros e pardos. O glaucoma é uma condição ocular decorrente do aumento da pressão intraocular, afetando o nervo óptico, ligado ao cérebro. Dentro do olho, é possível encontrar o humor aquoso, um líquido que nutre a córnea e mantém a temperatura interna em níveis adequados. A ausência de movimento desse líquido provoca a morte das células sensoriais, aos poucos, elevando a pressão no local.

Normalmente, fatores genéticos, outras doenças oculares (como o alto grau de miopia), pressão alta, estresse, enxaqueca, colesterol alto, apneia do sono e uso de certos medicamentos facilitam o surgimento. Os grandes riscos do glaucoma estão na possibilidade de cegueira. O processo tem início assintomático, dificultando um diagnóstico precoce para quem não tem o hábito de consultas periódicas com oftalmologistas. A idade também é um fator de risco, sendo mais comum a partir dos 40 anos. A tendência é os sintomas ocorrerem, quando o problema já está em estágio mais grave, provocando a perda gradual da visão periférica, dor ocular intensa, visão turva, halos, dor de cabeça, náuseas e vômitos. Contudo, é importante alertar que os efeitos variam conforme o tipo da doença, podendo ser de ângulo aberto – mais comum, e mais diagnosticado em fase avançada – ou fechado – devido a fatores anatômicos.

Apesar da complexidade da patologia, o diagnóstico é bastante simples com um exame completo, medindo a pressão intraocular e avaliando as condições do campo visual e do nervo óptico. Alguns exames complementares podem ser necessários para analisar a extensão dos danos. O tratamento varia conforme a necessidade de cada caso e, precisa ser levado muito a sério, uma vez que o glaucoma não possui cura. O método mais tradicional é feito a partir do uso de colírios, incluindo medicamentos para reduzir a pressão do olho e que precisam ser aplicados várias vezes ao dia.

Contudo, a evolução da medicina proporciona novas alternativas, como o Selective Laser Trabeculoplasty (SLT), usando um laser para melhorar o escoamento do humor aquoso e diminuir pressão no local – podendo até mesmo, eliminar o uso dos colírios. A injeção intravítrea, também é uma opção, indicada para ocorrências de glaucoma neovascular, um tipo secundário, originado pela formação de vasos sanguíneos anormais no olho. A técnica aplica o medicamento diretamente no olho, preenchendo a região vítrea.

As consultas periódicas são essenciais e, segundo a CBO, permitiram que mais de 300 mil brasileiros, entre 2019 e 2023, pudessem ser tratados a tempo, sem correrem o risco de perder a visão. Por outro lado, durante o mesmo período, mais de 85 mil pessoas passaram por cirurgia para controle, representando 55 operações diárias.