Por Lucimar Souza
O mês de abril, conhecido como “Abril Azul”, foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) com o intuito de chamar a atenção para o preconceito e o desconhecimento que ainda cercam as potencialidades dos alunos inseridos no Transtorno do Espectro Autista (TEA). A Neuropsicopedagogia emerge como uma solução terapêutica capaz de promover o desenvolvimento comportamental e acadêmico dos alunos autistas, quebrando diversas barreiras do preconceito. O termo “Abril Azul” é derivado da prevalência do autismo no sexo masculino.
Dados do Censo 2023, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), revelam que, dentre o total de matrículas na educação especial na educação básica, 53,7% correspondem a estudantes com deficiência intelectual (952.904), seguidos pelos estudantes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), totalizando 636.202 matrículas.
O principal objetivo da Neuropsicopedagogia é estudar o cérebro e seus comportamentos, uma vez que “o cérebro manda e o corpo obedece”. Nesse contexto, torna-se essencial compreender cada área cerebral e sua relação com o comportamento do indivíduo.
Integrando conhecimentos das ciências como psicologia, pedagogia e neurociência, a Neuropsicopedagogia visa estudar diversos aspectos do comportamento, pensamento, emoções, movimentos e, principalmente, a afetividade, visando melhorar a qualidade de vida do indivíduo.
Denise da Silva Batista, neuropsicopedagoga e proprietária da Clínica D’Brincar, com unidades em Justinópolis e Veneza em 06/MG, destaca que é na fase escolar obrigatória que muitas pessoas buscam suporte de terapias cognitivas comportamentais para entenderem os motivos do baixo desempenho escolar. Ela enfatiza ainda que é crucial desmistificar a ideia de que a Neuropsicopedagogia atua apenas na esfera escolar, pois, como ciência do aprendizado, ela pode beneficiar a todos, independentemente de serem atípicos (portadores de algum transtorno de aprendizagem) ou não, encorajando uma abordagem educacional integral.
Embora os sinais do autismo possam ser percebidos desde cedo, a dificuldade de diagnóstico persiste, muitas vezes, nos primeiros anos da infância, o que pode afetar os resultados potenciais. Não é necessário um laudo para iniciar os atendimentos de Neuropsicopedagogia, e quanto mais cedo começarem, melhor, para que os ganhos na esfera comportamental reflitam na esfera escolar. É essencial que uma equipe multidisciplinar faça parte dessa avaliação, já que o autismo não pode ser detectado por exames de imagem ou de sangue, sendo laudado pelo aspecto comportamental, por neuropediatras ou psiquiatras.
Existem três níveis de suporte para o autismo, sendo que no nível três não há comunicação verbal e são evidentes as presenças de estereotipias ou comportamentos repetitivos. Com intervenções adequadas, é possível transitar do suporte nível três para dois ou até mesmo um, conforme observado por nossa entrevistada.
Denise da Silva Batista ressalta que, apesar da prevalência ser maior em meninos, o diagnóstico em mulheres, inclusive adultas, tem aumentado significativamente com o avanço da neurociência. No entanto, muitas pessoas ainda não buscam a Neuropsicopedagogia por acreditarem que suas crianças não aprenderão muitas coisas ou devido às dificuldades de acesso a outras terapias, relegando o aspecto comportamental e escolar a segundo plano em detrimento de uma inclusão parcial na sociedade.
Tamiris de Jesus Front Pereira, pedagoga e mãe de Rafael Front Mendes, autista com suporte nível um, destaca que a Neuropsicopedagogia foi um divisor de águas para seu filho. Desde cedo, ela percebeu que seu filho era diferente, o que a motivou a iniciar uma jornada de consultas médicas. Embora nem sempre tenha recebido o acolhimento esperado dos profissionais de saúde, ela lutou incansavelmente para que seu filho tivesse acesso às terapias comportamentais necessárias.
Durante a fase de alfabetização, ela conheceu a Neuropsicopedagogia, e o desenvolvimento de seu filho deu um salto significativo. Embora os desafios diários persistam, ele agora interage melhor, desenvolveu sua coordenação motora e ganhou mais autonomia, refletindo em uma melhor socialização e desempenho escolar.
Embora o autismo não tenha cura, as intervenções das ciências que buscam compreender o funcionamento cerebral e as aprendizagens oferecem esperança. O mais importante é seguir em frente sem preconceitos e acreditar no potencial humano.
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