Sabrina Santos – Psicanalista

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”.

Ao longo da vida vamos estabelecendo rotinas com o intuito de facilitar a ordem das coisas, mas sem perceber acabamos criando ciclos repetitivos infindáveis. E quando menos se espera nos damos conta de que nosso modo de viver consiste em fazer tudo igual em dias diferentes, que de alguma maneira se tornam idênticos.

Aquela história do nascer, crescer, estudar, formar, ter um emprego, namorar, casar, ter filhos e repetir o ciclo adiante, incluindo aí bens adquiridos e boletos pagos, pode soar familiar a muito mais gente do que imaginamos. Não se trata de correr grandes riscos, mas simplesmente ousar começar algo novo.

Aliás, protelamos coisas quase que diariamente esperando pelo momento certo. Mas o fato é que não há momento certo. Ou, melhor, o momento certo sempre é o agora. O agora é a sua única certeza. Não espere uma crise dos 30, 40, 50 ou 60 anos para começar a viver, para tirar seus planos da gaveta. Nos prendemos ao momento certo, como uma tentativa de justificar nossos medos, incertezas, fragilidades e tantos outros adjetivos que nos diminuímos frente à grandeza que é a vida e à riqueza de possibilidades.

Saiba que são essas primeiras vezes que nos mantêm vivos, que nos faz sentir vivos. A primeira vez que dirigiu um carro. A primeira vez que viajou sozinha. A primeira vez que pulou de paraquedas. O primeiro beijo. Elas veem cercadas de sensações e sentimentos que se eternizarão em nossa linha do tempo.
Todos nós morremos um pouquinho a cada dia, ao passo que nascemos mais outro tanto. Somos morte e renascimento constante. Somos lagarta, casulo e borboleta em movimento, em metamorfose.

Se abrir para o novo é enxergar a potência que temos em transformar o substantivo VIDA no verbo VIVER. Sim! Existe uma diferença entre estar vivo e fazer vida. Neste momento inúmeras pessoas estão vivas, porém presas em um leito de um hospital, desejando não apenas a vida, mas o acontecimento dela. O mover, o amar, o sentir, o trabalhar. Desejando fazer uma lista de coisas que nunca fizeram, seguido do medo de nunca mais poder fazer.
Sabemos que a vida pede por rotinas pré-estabelecidas, e que não podemos simplesmente fazer o que queremos, viver também é fazer o que não queremos, mas precisamos.

No entanto, até o que se faz todos os dias, pode ser feito diferente. Quantas vezes você permitiu trocar o trajeto para casa? Quantas vezes você mudou o jeito de comemorar algo? Aquela receita gostosa, quantas vezes você mudou e a experimentou por outros sabores?

Porque é fácil levar uma vida banal e queixar-se a respeito dela. Mas será que quando a vida não é fantástica, a culpa é do destino? A vida pede pelo novo, se reinventar sempre, até porque tudo que fazemos pela primeira vez, não serão primeiras vezes para sempre, elas passarão e transformarão em normais como as demais.

Eu já não sei se a vida é curta ou a nossa capacidade de aproveitar o tempo é pequena, mas sei que essa vida é uma só. Ela é grande, mas não é duas. O Tempo que passa nos leva junto… não volta!

A propósito me diga, QUAL FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ FEZ ALGO PELA PRIMEIRA VEZ?
Se você respondeu “eu não me recordo”, lembre-se de que você AINDA está vivo.

Com carinho
Sabrina Santos