Marcos San Juan – Jornalista

Há exatamente um ano e onze meses, um rastro de destruição e tristeza tomou conta do povoado de Taquaras e região. O rompimento da barragem de Brumadinho, Córrego do Feijão, anunciava uma tragédia que deixaria marcas profundas nas vidas das comunidades. Nosso repórter, Marcos San Juan, testemunhou a cena desoladora de muitas casas sendo submersas pela força avassaladora das águas que transbordaram após o rompimento.

Ao retornarmos a Taquaras, buscamos entender como estava o cotidiano dos moradores e como eles reconstruíram suas vidas após perderem tudo, especialmente aqueles que dependiam da pesca e das plantações para sobreviver. Infelizmente, constatamos que a situação continuava desafiadora, com muitos moradores sem qualquer recurso para ser aproveitado.

A tragédia que atingiu Taquaras e outras comunidades resultou dos rejeitos da barragem de Brumadinho, em dois eventos distintos, ocorridos em 25 de janeiro de 2020 e 8 de janeiro de 2022. O impacto devastador da segunda ocorrência ainda ecoa nas comunidades, um ano e dez meses depois, quando uma enchente carregando os rejeitos deixou cicatrizes profundas.

Apesar dos esforços das autoridades e das promessas de reparação, constatamos que pouco foi feito para ajudar as famílias atingidas em Taquaras. O Termo de Compromisso e Cooperação (TCC), assinado como parte dos esforços de reparação, não foi suficiente para limpar nem metade da área afetada, conforme estabelecido no acordo. A limpeza, que começou em 15 de agosto de 2022, com prazo inicial de 90 dias e uma extensão de mais trinta dias, só foi concluída em 15 de dezembro de 2022, após intensa luta e persistência.

Informações fornecidas pelo NACAB em Esmeraldas às vésperas do prazo previsto pelo TCC revelam que apenas 1,57% da área contemplada pelo termo havia recebido a devida limpeza. Isso levanta sérias questões sobre a eficácia dos esforços de reparação e a preocupação genuína com o bem-estar das comunidades.

Enquanto a tragédia de Taquaras permanece viva na memória, é fundamental que as autoridades responsáveis intensifiquem seus esforços para reconstruir não apenas as estruturas físicas, mas também as vidas das pessoas afetadas. As comunidades merecem justiça, apoio contínuo e um compromisso real para que possam superar, de uma vez por todas, as consequências devastadoras dessa tragédia.

Entrevistamos alguns residentes:

Sr. Joaquim Gomes Filho relata com muita tristeza que perdeu 80% de sua propriedade:

“Minha casa e todo o quintal foram tomados pela lama na frente, ao lado e em todo o fundo do terreno. Tento lidar com isso da melhor maneira, mas não é fácil. Na minha propriedade, realizaram a limpeza, mas, na verdade, só abriram o acesso e empurraram os rejeitos para os lados, não efetuando uma limpeza adequada, alegando falta de tempo para o mesmo. Para se ter uma ideia, até hoje estou fazendo a limpeza na parte interna da minha casa. E sem condições financeiras para remover esse monte de rejeitos da área externa. Outra tristeza é que eu tinha um pomar com muitas frutas, e hoje não posso mais plantar nada. Tudo foi perdido, e ninguém parece se importar com as nossas dores, pelo menos para nos ajudar a amenizar essa situação. O aluguel de tratores e caminhões para concluir a limpeza é algo que não posso pagar. Meu pedido é que algo seja feito pelo poder público para atender à minha situação e de outros moradores, desenvolvendo um projeto que nos proporcione mais dignidade.”

Com o Sr. José Paulo da Silva, que também é morador de Taquara há 12 anos, não foi diferente, ele possui uma chácara que faz fundo com o Rio Paraopeba, a apenas 75 metros do rio. Antes, sua vida era voltada para a pescaria e a venda de peixe. Além disso, cultivava frutas em um pomar, como laranjas, ele relata que após os problemas causados pela mineradora, todos especialmente os ribeirinhos, sofreram as consequências devastadoras.

“O mais peculiar é que ninguém nos informa nada, ninguém se manifesta para ajudar ou propor soluções. Há uma empresa lá que ninguém sabe de onde vem, que acaba com nosso sossego, prejudicando muitos pais e mães de família, e nada é feito a respeito. O governo, na minha opinião, é o pior de todos. Aproveitou-se da tragédia dos outros, dos atingidos, desviando o dinheiro destinado à sobrevivência dessas pessoas para outros fins, como a construção de um anel rodoviário. Tudo isso enquanto estamos em uma situação difícil. Eu, por exemplo, trabalho incessantemente durante 30 dias no mês para sobreviver, pois perdi minha fonte de renda anterior com a pesca. Esse desastre veio para acabar com nossas vidas, não apenas a minha, mas de toda a comunidade. Nossas terras estão contaminadas, não podemos plantar nada. As autoridades precisam olhar para essa situação com mais atenção e não deixar que uma empresa de longe destrua o que é nosso. Peço, pelo amor de Deus, que as autoridades vejam isso com bons olhos, pois muitas pessoas estão precisando de ajuda. O apoio de Esmeraldas para nós aqui parece não ser nada, não só para nós, mas para toda a população nessa região. Não vemos assistência dos órgãos de Esmeraldas, e quando há a promessa de ajuda, nada é feito. Ficamos abandonados, como se fôssemos bonecos jogados de um lado para o outro. O prefeito de Esmeraldas e seus cercados, incluindo o governador, não estão resolvendo nada para mim, que sou morador.”

Conversamos também com Patrícia Passarela, representante das regiões afetadas e moradora de Taquaras. Ela mostra o nível que a água contaminada com rejeitos atingiu em sua residência.

“Hoje, restam apenas amontoados de rejeitos de mineração nos quintais, casas com estruturas completamente danificadas e pessoas que perderam tudo, sem condições de reconstrução, arcando com o aluguel do próprio bolso. O que a Vale, as instituições de justiça e os órgãos públicos têm feito por nós? Nada. Muitas famílias beira-rio ainda não têm acesso ao PTR. Crime após crime, estamos sendo negligenciados. Quem sai ganhando são as empresas e seus funcionários bem remunerados, às nossas custas. Quem olhará por nós e trará soluções? Não temos água em nosso território, pois mais de 100 cisternas e poços estão debaixo de lama ou secaram. Com a chegada do novo período de chuvas, ficamos apreensivos com mais perdas. Gritamos por socorro, mas todos parecem fingir que não ouvem.”

Nossa redação entrou em contato com Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal, a qual nos enviou uma nota.

Nota na íntegra:

A comissão Temática da Câmara Municipal de Esmeraldas, composta pelos vereadores, Gustavo do Dedé (Presidente), Klibas Rancho e Vicente Amigo (membros), reuniu-se em 21 de novembro, com representantes das comunidades atingidas. Na ocasião, foi discutido a aplicação do recurso da Vale, na região do Rio Paraopeba, que se encontra nos Cofres Públicos sem a devida movimentação. Foi apresentado pelos participantes, insatisfação quanto a morosidade para início das obras anunciadas pelo Executivo Municipal. Considerando o período chuvoso que se aproxima, os moradores demonstraram apreensão em virtude dos ocorridos nos últimos anos. Foi esclarecido aos representantes que é de responsabilidade da Prefeitura a execução das obras, e aos Vereadores o acompanhamento e fiscalização, não sendo de alçada do Legislativo qualquer intervenção no andamento da gestão do recurso. Somente, quando requisitados através do envio de Projetos de Leis à Câmara para suplementação Orçamentária. Os Vereadores (Membros da Comissão), se colocaram à disposição para intermediar sempre que necessário o diálogo entre os atingidos e o Executivo Municipal.