A campanha nacional para celebrar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo traz o tema “Lugar de autista é em todo lugar!” (com a “hashtag” #AutistaEmTodoLugar), pedindo inclusão em todos os aspectos, em todos os âmbitos, em todo lugar. A data é celebrada todo 2 de abril, criada em 2007 pela ONU (Organização das Nações Unidas), quando cartões-postais de todo o planeta se iluminam de azul — no Brasil, o mais famoso é o Cristo Redentor — para lembrar a data e chamar a atenção da mídia e da sociedade.
O número de referência mundial da prevalência de autismo é do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, que aponta 1 criança com autismo a cada 44 nascimentos nos números divulgados no fim de 2021. O Brasil não tem números oficiais e, neste ano, pela primeira vez teremos uma pergunta sobre autismo no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
André e a Turma da Mônica
O cartaz oficial da campanha é estrelado pelo André, o personagem autista da Turma da Mônica, graças à parceria da Revista Autismo com o Instituto Maurício de Sousa. “Criamos o André inicialmente para participar de vídeos e revistas institucionais e conscientizar os pais sobre os sinais do autismo. Hoje, ele integra as historinhas da Turma da Mônica, mostrando às crianças como podemos aprender com as diferenças. Eu mesmo tenho aprendido muito desde a criação do personagem. Ficamos muito satisfeitos de ter o André na campanha”, diz Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica e presidente do Instituto Maurício de Sousa.
Em 2019, Maurício de Sousa elaborou uma tirinha especial para o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que é muito usada até hoje. O objetivo da data é alertar adultos e crianças sobre a importância de se informar a respeito do autismo, cada vez mais diagnosticado em todo o mundo por conta de maior disseminação de informação. Em parceria com a revista, toda edição da publicação traz uma história em quadrinhos inéditos do André e a Turma da Mônica, já foram publicadas 5 histórias na revista, além da tirinha especial.
#AutistaEmTodoLugar
O tema deste ano — com a frase da mãe e ativista Fátima de Kwant: “Lugar de autista é em todo lugar!” — vem mostrar a importância de incluir as pessoas autistas nos mais diversos “lugares” da sociedade. O autismo tem um grande espectro de variedade e diversidade de pessoas e da maneira como o autismo caracteriza suas vidas, porém, todas elas, sem exceção, tem seu lugar e o direito de estar e fazerem o que quiserem.
Autismos
Pode-se dizer que há vários tipos ou subtipos de autismo, pois o transtorno é caracterizado por déficits, de qualquer nível, em duas importantes áreas do desenvolvimento: comunicação social (socialização e comunicação) e comportamento (movimentos repetitivos e interesses restritos). O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), portanto, afeta cada pessoa de maneira única. Não há um autista igual ao outro — nem em gêmeos idênticos.
Estudos recentes (principalmente uma grande pesquisa científica publicada em 2019, com mais de 2 milhões de indivíduos, em cinco países) demonstram que fatores genéticos são os mais importantes na determinação de suas causas (estimados entre 97% e 99%, sendo 81% hereditário), além de fatores ambientais (de 1% a 3%). Existem atualmente mais de 900 genes já mapeados e implicados como fatores de risco para o transtorno.
No Brasil, a “Lei Berenice Piana” — Lei 12.764, de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo, regulamentada pelo Decreto 8.368, de 2014 — garante os direitos dos autistas e os equipara às pessoas com deficiência. A legislação, porém, saiu minimamente do papel até agora.
Estimativa: 2 milhões
Apesar da prevalência norte-americana de 1 a cada 44 crianças, referentes a uma pesquisa de 2018, com número de homens quatro vezes maior que o de mulheres, a ONU, através da Organização Mundial da Saúde (OMS). Considera uma estimativa conservadora, de que cerca de 1% da população mundial esteja no espectro do autismo, a maioria sem diagnóstico ainda. No Brasil não sabemos a prevalência de autismo, temos apenas um estudo de prevalência de TEA até hoje, um estudo-piloto, de 2011, em Atibaia (SP), de 1 autista para cada 367 habitantes (ou 27,2 por 10.000) — a pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes daquela cidade. Segundo a estimativa da OMS, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de autistas. O Censo 2022 poderá dizer o número de diagnósticos do país, não o número total de pessoas autistas.
Sinais de autismo
A seguir, relacionamos alguns sinais de autismo. Apenas três deles presentes numa criança de um ano e meio já justificam uma suspeita para se consultar um médico neuropediatra ou um psiquiatra da infância e da juventude.
- Não manter contato visual por mais de 2 segundos;
- Não atender quando chamado pelo nome;
- Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;
- Alinhar objetos;
- Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
- Não brincar com brinquedos de forma convencional;
- Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
- Não falar ou não realizar gestos para mostrar algo;
- Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);
- Não compartilhar seus interesses e atenção apontando para algo, ou não olhar quando apontamos algo;
- Girar objetos sem uma função aparente;
- Interesse restrito ou hiperfoco;
- Não imitar;
- Não brincar de faz-de-conta.
Francisco Paiva Júnior é jornalista, escritor, palestrante, editor-chefe da Revista Autismo, além de ser pai de duas crianças: Samanta, de 12 anos; e Giovani, de 14 anos, com autismo.
Mais conteúdo sobre autismo e o “2 de abril” podem ser obtidas no site da Revista Autismo (CanalAutismo.com.br/DiaMundial). No site da ONU (www.un.org/en/events/autismday) também há mais informações sobre a data.
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