Josualdo Euzébio Silva – Médico cirurgião vascular, membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. Os casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) estão cada vez mais comuns e não apenas no Brasil. As últimas pesquisas, como a publicada pela revista científica The Lancet Neurology, revelaram que, de 1990 a 2021, o crescimento dessas ocorrências foi de 70%. Infelizmente, um alerta dos levantamentos está no fato do risco não está restrito somente a idosos.

O estudo apontou que foram mais de 11,9 milhões de registros, em um período de 31 anos, com uma elevação de 40% nas mortes e o comprometimento da saúde com sequelas ficou 32% maior. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença é considerada a segunda causa mais comum de mortes, sendo responsável por aproximadamente 112 mil óbitos ao ano.

O AVC, também conhecido popularmente como derrame, decorre do entupimento (de caráter isquêmico) ou rompimento (de caráter hemorrágico) do vaso que leva sangue ao cérebro, causando um aumento da pressão local e deixando o órgão sem uma circulação sanguínea adequada. Os fatores de risco são variados, envolvendo a hipertensão arterial, colesterol alto, obesidade, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, tabagismo e o histórico familiar de AVC. Vale recordar que os homens são os principais acometidos .

O AVC isquêmico é o tipo mais comum, correspondendo a 85% dos casos mundiais, ocorrendo, principalmente, devido a lesões de placas de carótida na artéria em direção ao cérebro; alterações cardíacas; trombos embolizados na artéria cerebral ou a presença de placa no arco aórtico, ou seja, o acúmulo de gordura, colesterol e outras substâncias na artéria aórtica. O tipo hemorrágico representa os 15% restantes, porém, é considerado o mais letal, causando mais óbitos. A formação acontece, sobretudo, devido a aneurismas ou malformação arterial.

Apesar de estar frequentemente ligado aos idosos, o derrame acontece em qualquer idade. Outro estudo, também publicado pela The Lancet Neurology, mostrou que o problema está 14,8% maior entre pessoas com menos de 70 anos. Os dados da Rede Brasil AVC mostram que, apenas no Brasil, 18% dos registros estão na faixa etária de 18 a 45 anos. A ex-participante do The Voice Kids, Karen Silva, por exemplo, foi uma das vítimas brasileiras recentes da condição de caráter hemorrágico, culminando com a morte dela, aos 17 anos.

A recomendação médica é evitar riscos e investir em prevenção. Afinal, o acidente vascular cerebral isquêmico é causado por lesão na carótida e pode ser rastreado. O acompanhamento com um cirurgião vascular é essencial, destacadamente, para quem tem fatores de risco ou casos na família.

O tratamento varia conforme o grau da lesão, incluindo uso de medicamentos e cirurgia, aberta ou fechada. A intervenção aberta se dá com uma incisão no pescoço para retirada da placa e reconstruir a carótida, enquanto a fechada é minimamente invasiva. O procedimento insere um catéter pelo braço ou virilha, guiando-o até a região para aplicar o stent, restabelecendo a circulação local e evitando o AVC.

Os cuidados com a saúde não devem ser ignorados, sendo importante manter hábitos saudáveis, como praticar exercícios físicos; optar por uma alimentação balanceada, rica em frutas, verduras, legumes e cereais; evitar bebida alcoólica; drogas e tabaco; controlar o peso e dormir as horas necessárias.