Reza a lenda, segundo Monteiro Lobato, que Deus ao criar o mundo, montou seu almoxarifado de belezas naturais no Rio de Janeiro.
À medida que o tempo foi passando, daqueles planejados e programados à gênese, o Criador abasteceu o planeta com mares, cachoeiras, montanhas, fauna e flora, tirados deste depósito de matéria-prima carioca. Chegado o dia do descanso, como contava o cronograma e, não tendo usado todo o estoque do “Armazém Natureza”, o Todo-Poderoso optou por deixá-lo residente na Cidade Maravilhosa.
Por cá ficaram a maior floresta urbana do Planeta, recheada de cachoeiras em véus, açudes remansados, lagos espelhados, córregos translúcidos, cavernas e grutas ecoantes e fontes perenes, além de grande parte da Arca de Noé da parte que cabia ao lado de cá do Equador Montanhas que, de qualquer ponto que se esteja, são avistadas; verdes, pujantes, imponentes e altivas em seus mergulhos nas lagoas, rios e praias.
E, por falar nelas, as praias. Lindas, com areias peroladas, leves e suavemente tocadas por águas, que vão do azul-anil ao verde-jade. Banhadas pelo Sol, que doira à pele ao léu de todas as índias e índios vindos de estrelas coloridas-brilhantes. Exalam um cheiro de maresia todas as manhãs à preamar, baixa-mar e dom de amar.
Os manguezais, gerando vida que brota de suas entranhas, as imensas lagoas, baías e restinga. A lista de acidentes geográficos é quase completa neste pedacinho de terra. Deus nos poupou dos vulcões ativos.
Os extinguiu antes do advento Adão e Eva.
Desde os tempos da criação, o Pai Celestial fez da cidade fac-símile do paraíso. Tudo perfeito, exuberante, abundante, completo com toques de opulência. Espelho narciso do esplendor.
Fez do Rio a mais linda cidade do mundo – com Sol; também a segunda – com chuva, como sempre referenda Ruy Castro. O Rio é lindo de qualquer maneira, para qualquer olhar, visto de qualquer lugar, mesmo quando purga, e como tem purgado, suas belezas permanecem quase à flor da pele. Há sempre o florescer da vitória-régia nos lagos do Jardim Botânico, das bromélias do Parque da Pedra Branca, das orquídeas selvagens das encostas do Pão de Açúcar ou das flores-de-cactos da Pedra do Arpoador.
Por mais que tentem, e como tentam destruir o paraíso terrestre que é o Rio de Janeiro, jamais conseguiram e jamais
conseguirão.
O Rio é criação divina, cuidado pelo seu Arquiteto do Universo. Mesmo que falsos profetas tentem se apropriar deste depósito de essência natural, têm suas intenções cortadas pela raiz. Não perduram.
Desconfio, que vez por outra, o Onipotente vem por cá pegar uma peça de reposição para outras terras, outros mares.
Meu Deus, que cidade linda!
Crônica do Carlos Monteiro
Carlos Monteiro – publicitário, jornalista e fotógrafo carioca, com três livros de fotos publicados
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