Marcos San Juan – Jornalista

Na hora do almoço, para saber tudo sobre os times mineiros, seja em casa, nos bares ou restaurantes espalhados por Minas Gerais, a pedida do dia é o Alterosa Esporte, comandado pelo apresentador Leopoldo Siqueira, juntamente com a famosa Bancada Democrática, com muita alegria e irreverencia, todos os telespectadores ligados nos comentários dos representantes dos times mineiros.

Essa equipe com muitas resenhas para contar, e para trazer as curiosidades conversamos com o apresentador Leopoldo Siqueira, que há 26 anos está a frente deste tradicional programa de esportes, que podemos afirmar que sim, é o preferido dos mineiros.

Nascido em Manhuaçu, aos três anos, Leopoldo Pereira de Siqueira mudou com a família para Juiz de Fora. Lá formou-se em Comunicação Social pela UFJF. Foi assessor de imprensa do Sport Club e diretor do sindicato de jornalistas local em 87. O início como repórter de esportes foi no extinto Diário de Minas, passando posteriormente ao jornal Tribuna de Minas e à antiga Rádio Sociedade, atualmente Rádio Solar.

Em 21 de abril de 1987 transferiu-se para Belo Horizonte, para assumir a editoria de esportes da Tribuna. Na capital mineira, fez parte também da equipe da Rádio Globo Minas. Pelo jornal, foi premiado por uma matéria sobre hipismo; pela rádio, por uma reportagem sobre catadores de papel.

Passou pela Rede Record e pela editoria de polícia do jornal Estado de Minas, antes de entrar para a TV Alterosa em 1992. Na emissora, foi repórter do telejornal Aqui Agora, ao lado de Laudívio Carvalho, Ronaldo Martins, Tom Paixão e Vânia Turce. A versão mineira do jornalístico foi extinta em 1995 e ele passou a trabalhar no Alterosa Notícias, até voltar à reportagem esportiva em 1997. Em 2000 foi promovido, passando a exercer as funções de editor-responsável e apresentador fixo do Alterosa Esporte. Desde 2008, aos sábados, ele também está à frente do programa Bola na Área, parceria da TV Alterosa com a Rádio Itatiaia.

JDE – Leopoldo Siqueira conte um pouco da sua história como jornalista

Leopoldo – “Minha história como jornalista começou cedo. Comecei fazendo um ‘jornalzinho’ caseiro, com notícias da família, sempre com um toque de humor. Eu, que gostava de escrever (contos, poesias, letras de música) comecei a ver na apuração e redação de notícias uma veia e fiz, sem dúvida, a opção por Comunicação Social no Vestibular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em 1978. E, um ano antes de me formar, já integrava a redação do recém-criado jornal ‘Tribuna de Minas’, como estagiário de esportes”.

JDE – Qual foi a reportagem que marcou sua história?

Leopoldo – Não foi apenas uma reportagem. A primeira delas foi, exatamente, nessa época do jornal juiz-forano, sobre a morte de um palhaço – que era pai de um famoso jogador de futebol. Um triste enterro numa tarde chuvosa, com pouquíssimas pessoas. Logo ele, que sempre arrastava público para as apresentações nos circos. Nem mesmo o filho compareceu…

Outras reportagens marcantes foram: ‘Concurso Internacional de Hipismo (que venceu o Prêmio de Reportagem do Cepel’ – também pelo jornal ‘Tribuna de Minas’, então transferido de JF para Belo Horizonte. ‘A Vida dos Catadores de Papel’ – série de matérias para a Rádio Globo Minas (também premiada).

Na Tv Alterosa, reportagens marcantes pelo jornal ‘Aqui Agora’: denúncia de explosões de dinamite numa mina de ouro reaberta, clandestinamente, por garimpeiros em São João Del-Rei. Eu e o cinegrafista descemos 80 metros de profundidade, enfrentando riscos de desabamento (que aconteceu meses depois) e da reação dos chefões do garimpo irregular. E também uma tensa reportagem no ‘globo da morte’ de um circo. Entrei no dispositivo com 5 motos em alta velocidade e o recorde anterior era com 4 motoqueiros.

Sem contar, é claro, as coberturas de duas Copas do Mundo (Alemanha, em 2006, e África do Sul, em 2010), quando fizemos reportagens para o Alterosa Esporte, jornal Estado de Minas e Rádio Guarani.

JDE – No programa Alterosa Esportes, de quem foi a ideia deste formato inovador do programa, que vem com uma longa trajetória de sucesso?

Leopoldo – O então diretor de programação, Ricardo Massara, criou o formado do Alterosa Esporte, baseando-se num programa da Tv Itacolomi, no final da década de 1960, apresentado pelo saudoso Fernando Sasso – o ‘Bola na Área’ – que tinha comentarista que se identificavam com os três clubes de futebol da capital mineira. Foram feitas algumas adaptações e modernizações. No começo, a formação da ‘Bancada Democrática’ era com 3 jornalistas do ‘Diário da Tarde’ (que já não circula mais) – Neuber Soares, Otávio di Toledo e Carlos Cruz.

Com a chegada do Dada Maravilha, a concepção mudou – mais humor e descontração – e os índices de audiência aumentaram imensamente. São 26 anos de Alterosa Esporte informando e divertindo a família mineira na hora do almoço.

JDE – Quais as dificuldades em apresentar um programa ao vivo, com pessoas com humor diferente (principalmente quando o time perde), como você conduz esse turbilhão de emoções?

Leopoldo – É um desafio constante, mas também uma grande satisfação. Já que, com raríssimas exceções, mesmo adversários ferrenhos, eles conseguem debater e se provocar sem cometer excessos. A adrenalina sobe, bastante, em véspera e após os clássicos. Mas sempre procuramos amenizar o clima com brincadeiras, os pagamentos de apostas, e, claro, o senso ético e profissional dos integrantes da ‘Bancada Democrática’.

JDE – Conte uma curiosidade dos bastidores?

Leopoldo – Todo grupo que trabalha com alegria e harmonia criam as chamadas “piadas internas”. Algumas, os integrantes da ‘Bancada Democrática’ só podem contar no intervalo, na transmissão ao vivo pelo YouTube. As histórias, às vezes, tem os nomes omitidos… Outras, nem vão ao ar (kkk). O intervalo do Alterosa Esporte acabou batizado de “Proibidão”. Existem alguns códigos, talvez, não difíceis de decifrar. O Fael, por exemplo, é chamado de “bóia baixa”… Querem saber mais? É só se ligar no “Proibidão”.

JDE – Conta para gente aqui, das bancadas, qual foi ou é sua preferida?

Leopoldo – Seria “trairagem” se eu citasse apenas uma, porque várias formações foram clássicas e caíram no gosto popular. Houve o começo bastante quente com Toledo, Carlos Cruz e Neuber. Em seguida, o “boom” com Dada, Toledo e Neuber. Em seguida, tivemos grande sucesso com Dudu, Toledo e Neuber. A ‘Bancada’ atual é excelente, com Toledo, Fael e Hugão, e conta com vários participantes especiais e competentes, como Ronaldo Luiz, Nanda, Ana, Samuca, Betinho, Bira…

Claro que não posso deixar de citar as participações memoráveis do saudoso Jair Bala, que contribuiu muito com histórias do futebol e a opinião forte e experiente, além de uma alegria e uma doçura imensas que contagiava a todos.

JDE – Quais são os planos para o programa e seus sonhos pessoais?

Leopoldo – O Alterosa Esporte sempre terá a marca da inovação. E, pessoalmente, sonho em poder contribuir o maior tempo possível para esse fenômeno de alcance e audiência da televisão mineira. Vai chegar o dia da aposentadoria, certamente. Uma beira de praia não será nada mal. Porém, espero que por muito tempo ainda eu esteja é na beira do gramado.

JDE – Leopoldo o seu trabalho é admirável, e pelo tempo que você está a frente do programa, qual o segredo?

Leopoldo – Comecei no programa como repórter – função que adoro exercer – e aprendi muito com mestres com quem trabalhei na Rádio Sociedade (Super B 3 e atual Solar), de Juiz de Fora, como Mário Helênio (jornalista memorável que dá nome ao estádio municipal da cidade), Cláudio Temponi, Paulo César Magella.

Segredo? Acho que trouxe muito do rádio para a televisão. Procuro sempre respeitar o tempo e a opinião e, principalmente, a crítica construtiva dos telespectadores. E, obviamente, para ficar tanto tempo, procuro transmitir na telinha a imensa alegria e amor que tenho por esse trabalho e esse programa. E poder contar com a parceria dos companheiros de trabalho.

JDE – Qual é o conselho para aqueles que querem seguir no jornalismo e para aqueles que estão iniciando na carreira?

Leopoldo – Ao contrário dos que defendem o fim do diploma para o exercício de algumas profissões, considero a formação acadêmica em Jornalismo fundamental. E o jornalista deve procurar os veículos – desde cedo, na condição de estagiário, por exemplo, ou criando seu próprio canal – para aprender na prática. Jornalismo é uma profissão transformadora e importante para a sociedade. Ela requer do profissional: ética, talento, superação, perseverança e respeito à informação.