Viúva pretende lançar nova obra do escritor, mas dessa vez conta com a contribuição do filho. “Alécio Cunha transportava para os seus textos, toda a sua generosidade. Suas críticas não eram ácidas, para baixo ou depreciativas, pelo contrário, eram para cima, do bem, incentivadoras, carregadas de poesia e eu considero a presença dele, ao meu lado por 20 anos, um verdadeiro presente de Deus,” relembra e agradece a jornalista e assessora de imprensa, Márcia de Queirós, 55, viúva do reconhecido jornalista mineiro.
Para ela, na sua profissão, Alécio sabia ser versátil e genial em toda a sua produção cultural, como cronista, escritor ou repórter. Em 2014, Márcia de Queiros trabalhou em prol e lançou o livro de Alécio Cunha, “Sintaxe Urbana” (71 págs., R$ 30). A coletânea de 28 poemas, foi lançada em homenagem póstuma ao marido, na livraria Scriptum. O livro traz textos de apresentação do escritor Mário Alex Rosa, responsável pela edição da obra, e do jornalista e crítico de música Kiko Ferreira, ambos grandes amigos de Alécio Cunha.
“Agora pretendo lançar um livro reunindo as principais crônicas do Alécio, publicadas durante sua carreira no jornal Hoje em Dia. Mas desta vez, com a participação do estudante de Publicidade João Antônio, o filho do casal”, divulga a jornalista.
Para Márcia de Queiros, “o nome de Alécio Cunha está cravado na história do Estado, como um dos mais consagrados jornalistas de Cultura para professores universitários, intelectuais, eruditos e, na mesma intensidade, pelos artistas populares, dos quatro cantos do país. Mas o que mais me encantava nele, como profissional e pessoalmente, era seu jeito único de tratar e de escrever sobre as pessoas, sem preconceitos. Alécio foi a pessoa mais generosa e amorosa que conheci”, afirma, emocionada, a jornalista.
Alécio Cunha faleceu em 2009, aos 40 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e suas poesias, sobre lugares e personalidades famosas da capital mineira permanecem vivas e atuais, reunidas em sua obra. Alécio é autor de outros dois livros de poemas: “Lírica Caduca” (editora Por Ora) e “Mínima Memória” (editora Scriptum).
Também foi autor de ensaio publicado no livro de arte sobre o pintor Mário Mariano, além de colaborar com textos para outras obras literárias. Márcia relembra, por exemplo, que poucos dias antes de Alécio falecer, o jornal Hoje em Dia havia lançado vários blogs dos seus jornalistas.
“E eu me recordo de ter ficado muito feliz com a novidade e de ter acessado a página ao lado dele, curtido até postado comentário. E de 2009 em diante, a tecnologia avançou muito e eu imagino que se Alécio estivesse aqui hoje, com tantas mudanças, com certeza seria um grande Youtuber, postando lives, e apresentando seu talento e seus poemas nas redes sociais”, imagina, com alegria, Márcia.
Por outro lado, Márcia se questiona sobre como Alécio Cunha, do alto de seu talento e de sua sensibilidade, se sentiria e o que faria sobre eventos transformadores mundiais, como a pandemia de Covid-19, a guerra entre Ucrânia e Rússia e até a crise de mudanças climáticas, que enfrentamos. “Para mim, com tanta sensibilidade, Alécio talvez não caberia nesse mundo.”, supõe a jornalista.
O filho, João Antônio
Quando Alécio Cunha faleceu, seu filho, o João Antônio tinha, então, apenas sete anos e, de acordo com a mãe, Márcia de Queirós, o rapaz é generoso, alegre e criativo como o pai foi.
“Foram poucos anos de convivência juntos, entre pai e filho, mas foram momentos muito intensos. Alécio levava o João aonde ia, lançamentos de livros, cinema, livrarias. Buscava e levava à escola, à natação, foi muito presente na vida do filho e até escreveu poemas e crônicas para o João. Lembro-me de que, quando mudamos para o Sion _ Zona Sul de BH -, bairro que ficava mais distante do colégio do João, o Alécio de vez em quando pegava carona na própria van/escolar do João e, no caminho distribuía balas para todas as crianças, brincava e contava histórias. Esses momentos ficaram marcados na memória do João, que herdou do pai o gosto pelo cinema, pela leitura, pelos quadrinhos. A sementinha foi bem plantada e creio que de onde estiver, Alécio está muito feliz com este menino. Aqui em nossa casa Alécio faz falta demais, mas vamos seguindo a vida”, ensina, saudosa, a jornalista.
João, relata a inspiração que carrega do pai em sua vida, “Meu pai, Alécio Cunha, plantou a semente do gosto pelo cinema, pela música e pelos livros (em especial pelos gibis) em mim desde pequeno. São valores e paixões que levarei para toda a minha vida”.
Gratificante
Companheiro de trabalho e grande admirador do trabalho de Alécio Cunha, na empresa Hoje em Dia, para o jornalista, diretor e presidente do Jornal Digital de Esmeraldas – JDE, Marcos San Juan, gratificante é a palavra que melhor descreve sua convivência com Alécio. Principalmente em função de seu blog na área cultural, que criou na época e, para o qual sempre fazia questão de ouvir e considerar as novidades, contribuições, informações e conhecimentos trazidos pelo jornalista. “Ele era uma referência todos que gostavam de cultura tinham, porque ele falava sobre o assunto com absoluta propriedade e isso era sempre uma inspiração”, afirma San Juan.
Para Marcos, Alécio Cunha deixa para a sociedade brasileira todo um legado de obras e referências culturais singulares, construído por meio de sua história e trajetória no jornalismo. “Um exemplo de homem a ser seguido, eu agradeço muito a oportunidade de ter conhecido, convivido e desfrutado momentos tão significativos com ele”, diz o diretor.
História
O jornalista e escritor Alécio Cunha (1969-2009) nasceu em Boa Esperança, no Sul de Minas. Na adolescência veio para Belo Horizonte para cursar o ensino médio. Na capital, formou-se em jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e exerceu brilhante carreira profissional.
Aos 19 anos, pouco antes de se formar, deu início às atividades como crítico de cinema do jornal “Hoje em Dia”, onde, além de reportagens sobre literatura, cinema, teatro, música e artes plásticas, mantinha coluna semanal de crônicas. Alécio atuou também no extinto semanário Jornal de Casa, que circulava nos fins de semana em Belo Horizonte até os anos 1990 e na revista Isto É Minas.
O trabalho como jornalista ganhou projeção nacional. Em 2006, ele foi finalista do prêmio Comunique-se, pelo portal Comunique-se, de Melhor Repórter de Cultura do Brasil. Pouco antes de falecer, tomou posse na Academia Municipalista de Letras de Boa Esperança, cidade pela qual nutria enorme paixão e dedicou versos, presentes no livro “Mínima Memória”.
O artista Carlos Bracher, presenteou Alécio Cunha com essa pintura
Antes de falecer, no processo de produção, Alécio Cunha havia feito o pedido de edição do seu livro ao amigo Mário Alex e encomendou texto, ao também amigo, Kiko Ferreira. Os poemas são ilustrados com imagens da cidade feitas por fotógrafos amigos, que o acompanharam na cobertura jornalística diária no jornal Hoje em Dia.
“Em princípio aprendi, a alma é a semente que brota a vida”.
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